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Publicado em: 14 de novembro de 2025

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Artigo: Revolução silenciosa – Como a IA está alterando profundamente o setor de seguros de transporte no Brasil

* Pedro Picolotto Ferraro Lima

De alguns anos para cá, o termo “inteligência artificial” deixou de ser tema de filme de ficção científica e passou a fazer parte da rotina de milhões de pessoas, seja no trabalho, nos estudos ou até mesmo para tirar uma dúvida rápida sobre um assunto qualquer e procurar uma nova receita. Essa transformação não poupou o setor de seguros no Brasil, que vem sendo silenciosamente remodelado por essa tecnologia. Dentre todos os ramos de seguros, as modalidades relacionadas ao transporte rodoviário, como os seguros de cargas e de frotas, certamente estão entre as mais impactadas. Enquanto a FenSeg projeta um crescimento de 11,5% para o seguro transporte em 2025, o que mais chama atenção é a maneira com que a IA está redefinindo o conceito do que é proteger suas operações de transporte no contexto brasileiro.

A realidade do mercado brasileiro é única: ampla dependência do modal rodoviário, altos índices de roubos de cargas, infraestrutura precária e sem investimentos, além de jornadas exaustivas de motoristas comumente mal remunerados. É justamente nesse cenário que a IA revela seu maior valor. Essa tecnologia está servindo como base para criação de soluções práticas dos desafios genuinamente brasileiros. Um ótimo exemplo são os sistemas de análise de risco que hoje operam em tempo real, identificando rotas a serem evitadas considerando não apenas dados históricos, mas também variáveis atualizadas instantaneamente, como eventos locais, volume de tráfego e condições da estrada, algo que era impraticável há alguns anos.

Destacam-se também equipamentos instalados nos caminhões e carretas, que através de diversos sensores auxiliam no monitoramento dos riscos e condições do veículo em tempo real. Esses sistemas permitem intervenções preventivas em termos de manutenção do conjunto, além de monitorarem os padrões de condução do motorista, como detecção de sinais de fadiga, distração ou direção imprudente. Resultados gerados por esse tipo de iniciativa já são expressivos. Diversas pesquisas e levantamentos com transportadoras de pequeno e médio porte apontam reduções de até 35% em paradas não programadas e mais de 40% em acidentes de trânsito relacionados à fadiga. Além do ganho de eficiência em diversos âmbitos da operação, o que torna as empresas mais competitivas nesse ambiente tão desafiador, esses números também representam vidas preservadas nas estradas brasileiras.

Todos esses fatores têm afetado também a relação entre as seguradoras e transportadoras. O modelo de “apólice de gaveta” dá lugar ao conceito de seguro como serviço, com coberturas ajustadas dinamicamente conforme comportamento da operação do segurado. Para as seguradoras isso significa uma melhor compreensão dos riscos, o que auxilia na definição de prêmios e coberturas adequadas. Por outro lado, para as transportadoras que trabalham com operações de níveis de riscos distintos, essa flexibilidade pode ser um fator essencial para sua sobrevivência. Todos ganham.

É claro que ainda existem desafios, como a limitação de cobertura de internet em rodovias, falta de investimento público em infraestrutura e algumas tecnologias ainda podem ser consideradas caras, especialmente para pequenas transportadoras. Mas a tendência é clara e irreversível, à medida que casos de sucesso se multiplicam e os custos diminuem, a adoção de IA no monitoramento e gestão de frotas é uma questão de tempo. Como profissional que atua diariamente com transportadoras de todos os portes, afirmo que estamos apenas no início dessa transformação. Toda mudança traz oportunidades, e o Brasil tem potencial para desenvolver soluções adaptadas às nossas particularidades, mas também servir de modelo para outros mercados emergentes. O futuro do seguro de transportes no país será digital, preditivo e personalizado, e quem não entender o jogo, vai acabar desaparecendo.


*Pedro Picolotto Ferraro Lima é corretor de seguros especializado no setor de transportes e sócio da Forte Brasil Corretora de Seguros e Gerenciadora de Riscos

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